Desta vez, o foco da campanha são mulheres e homossexuais da faixa etária de 13 a 24 anos, grupo mais vulnerável à contaminação, segundo dados do último Boletim Epidemiológico do MS. De acordo com a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do ProSex – Projeto Sexualidade, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), as mulheres aceitam sexo sem camisinha só para agradar aos homens. “Para o jovem que não tem experiência e teme fracassar, o uso da camisinha aumenta a possibilidade de falha, porque o garoto tem de parar o ato para vesti-la e, neste momento, tem medo de perder a ereção”, explica.Mas o que a mulher tem a ver com a insegurança do parceiro? “A moça tem receio de, ao solicitar ou exigir que o parceiro use o preservativo, acabe provocando uma quebra no clima das preliminares”, esclarece a psiquiatra, acrescentando que tal situação é comum em casal jovem, quando está começando a atividade sexual. Porém, se todas as garotas mudarem o comportamento e passarem a exigir o uso do preservativo, os parceiros não terão outra escolha, a não ser aceitar e concordar. "É muito importante que as mulheres tenham um grau de consciência e saibam que se o uso do preservativo for um comportamento homogêneo, o rapaz fará disso uma prática e o uso da camisinha estará consolidado", observa.
O mesmo conselho se aplica aos homossexuais. Porém, o que torna a situação preocupante para alguns gays é a pluralidade de parceiros sexuais, o que aumenta o risco de contaminação. Segundo o Boletim Epidemiológico, Salvador é a sétima cidade no ranking nacional de notificações de doenças sexualmente transmissíveis (DST’S) e Aids. Dos 10.999 casos registrados em 2006, 7.224 são indivíduos do sexo masculino, para 3.775 mulheres. Para Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), um dos motivos que levam o gay a dispensar o preservativo da hora da relação sexual tem a ver com a homofobia e a intolerância da sociedade.
Na opinião de Marcelo, “as interdições que os gays enfrentam no cotidiano fazem com que eles, em relação ao sexo, entrem em um processo de desrepressão sexual selvagem e dispensem o preservativo na hora da relação”. Como combate à postura cultural de muitos homossexuais em relação à camisinha, o presidente do GGB defende que as ações de combate à AIDS sejam vinculadas ao combate à homofobia e resgate da cidadania da população GLBT.
Por outro lado, nem todo gay “libera geral” quando o assunto é sexo sem proteção. O funcionário público Patrício Rocha[1], hoje com 33 anos, teve a primeira transa aos 21 e de lá pra cá, declara ter usado camisinha em todas as ocasiões, à exceção de duas. “A primeira vez aconteceu com uma pessoa por quem estava apaixonado há quase dez anos. Quando a oportunidade surgiu, não pensei duas vezes. Daí me perguntei: faço sem ‘camisa’ ou continuo esperando por mais dez anos? [risos]. A segunda vez rolou com um carinha bem sexy e como eu estava carente, topei fazer, mesmo sabendo dos riscos”, confessa Patrício, que, reconhecendo o vacilo cometido, faz exames periódicos para se certificar se tudo segue bem com a saúde.
O engenheiro Ricardo Lula, 25 anos, perdeu a virgindade aos 13 com uma mulher mais velha, e é outro que declara usar o preservativo em “todas” as relações. “Depois da última vez que tive relação sem camisinha, fiz um teste”, afirma Ricardo, que aponta a quebra do clima das preliminares e a diminuição do prazer como principais motivos que o levou a dispensar o uso do preservativo. “É literalmente como chupar bala com papel”, exclama.
Patrício e Ricardo retratam o perfil de muitos brasileiros, que declaram usar o preservativo, mas uma vez ou outra abaixam a guarda. Isso evidencia que ninguém está 100% seguro, uma vez que situações como as mencionadas acontecem diariamente com a maioria das pessoas, independente de ser solteiro(a) ou casado(a), homossexual ou heterossexual. Uma única vez sem camisinha pode ser o suficiente. Assim, para efeito de prevenção do HIV, o que importa é transar de forma segura.

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