
Por Lázaro Lamberth
A partir do desenvolvimento industrial alavancado a partir do século XIX, os meios de comunicação de massa (MCM), em todo o mundo, entraram em um processo de desenvolvimento sem precedentes. Apenas no século XX, invenções como o rádio e a tevê tornaram-se as principais mídias de massa que o mundo já viu. Porém, com o advento da computação, o avanço exacerbado das novas tecnologias, sobretudo a internet, revolucionou o mundo das comunicações e trouxe novos estilos de mídia para a sociedade contemporânea.
Numa tentativa de refletir tais questões e estabelecer o que seria uma nova mídia do início do novo século, o americano Wilson Dizard Jr., especialista em tecnologia e comunicação, aborda em A Nova Mídia – a comunicação de massa na era da informação, o impacto das atuais tecnologias sobre as antigas e o que se pode esperar da chamada hibridização midiática e convergência tecnológica para a qual o mundo se encaminha.
O presente ensaio consiste em uma reflexão sobre a nova mídia e a comunicação de massa na era da informação e suas implicações sociais e econômicas na atualidade, tendo por base a argumentação central do autor nos textos selecionados. Inicialmente, há um resumo crítico sobre os argumentos principais trabalhado pelo autor no decorrer do texto, estabelecendo prováveis paralelos entre o modelo americano, que é o objeto de análise no texto, e o modelo brasileiro.
Wilson Dizard Jr. inicia sua abordagem associando a comunicação de massa à tecnologia à mudança. Tendo em vista que avanço é algo intrínseco à tecnologia, tal relação acarreta transformações em todas as esferas da sociedade. A nova mídia nada mais e que um fenômeno ou tendência mundial de uma forma de mídia onde todos os componentes híbridamente se convertem para o mesmo fim, tendo em comum a computação e a internet como principais tecnologias. Tal contexto tecnológico midiático ocasiona mudanças em sentido técnico, político e econômico no cenário mundial da mídia de massa. Técnico no sentido da adaptação das mídias às novas perspectivas impostas pela digitalização; político no que se refere às leis e regulamentos de qualquer esfera governamental; e, econômico no sentido da concentração do poder dentro dos grandes conglomerados de mídia.
Ao analisar o surgimento e desenvolvimento da internet como mídia de massa a partir da década de 90 — com o objetivo de descrever seu impacto inicial e examinar seu potencial nos padrões de mídia no início do século XXI — Dizard propõe reflexões acerca do que se pode esperar das atuais e já consideradas defasadas mídias tradicionais, tendo em vista que a computação e a internet são tecnologias em constante processo de desenvolvimento. Podemos prever com certeza o que o futuro reserva para o rádio, tevê e mesmo a imprensa? Até que ponto o avanço tecnológico satisfaz as necessidades de cada cidadão? Conforme bem problematizado, “a pergunta decisiva é como todas essas possibilidades podem nos beneficiar numa democracia pós-industrial mais complexa.” (DIZARD, 2000, pág. 15).
Tais questionamentos se justificam quando, apesar de todo avanço e vantagens em termos de acessibilidade, flexibilidade e interatividade, a digitalização ainda não chega a todas as classes e camadas sociais. O chamado analfabetismo digital, que separa cada vez mais aqueles que têm dos que não tem, é algo que precisa ser tratado urgentemente, sob pena do princípio primordial da cibercultura tornar-se questionável. Sobre isso, Dizard (2000) avalia:
"A continuar a atual tendência, os primeiros dominarão totalmente os recursos de informação de que todos necessitam para sobreviver e prosperar, e os segundos se tornarão um lumpem proletariado pós-industrial, relegados ao entretenimento irracional e outras trivialidades. A garantia de acesso eqüitativo aos recursos de informação de última geração parece ser a questão mais urgente que enfrentamos à medida que penetramos no padrão da nova mídia." (2000, pág. 15)
O que se percebe das considerações contidas no texto é que embora o autor utilize o modelo norte-americano de mídia eletrônica de massa como objeto de estudo em sua análise, o que ocorre nos EUA em termos de MCM e novas tecnologias pode ser aplicado em todo o mundo, inclusive ao Brasil.
A rápida sucessão do avanço tecnológico tira das camadas sociais a percepção do atual cenário de mudança e a emergência de novos padrões de mídia eletrônica de massa e pessoal divide a opinião dos especialistas em comunicação quanto ao futuro da cibercultura e das comunicações na era da informação massiva e excessiva. Há quem acredite que teremos uma sociedade democrática, onde todos serão agentes receptores e produtores de informação. A blogosfera, o jornalismo cidadão e a interatividade digital são algumas das expressões vistas com bons olhos pelos integrados da comunicação. Para os apocalípticos, porém, estamos à caminho do fim, do desconexo, principalmente porque a cultura de massa disseminada pelos mídia introduz conceitos, dita valores e muda a maneira de ser e de agir de milhões de pessoas, acentuando ainda mais a disparidade e segregação social e digital que separa o mundo entre os que têm acesso à comunicação e ao poder e os que, por não estar incluídos ao ciberespaço, ficam alienados do desenvolvimento proporcionado pelas novas tecnologias. O mais provável que ocorra é que, no futuro não muito distante, estaremos em algum ponto entre os dois extremos, pois, apesar de todas as disparidades existentes, não se pode negar as inúmeras possibilidades criadas pela cibercultura e da internet como nova mídia e nova forma de conhecimento.
Outro ponto argumentado que convêm algumas observações tem a ver com o aspecto político legal das novas tecnologias da comunicação. Assim como ocorre nos EUA, no Brasil, a defasada legislação não contempla as atuais mídias eletrônicas. O sistema legislativo de comunicação brasileiro ainda encontra-se regido por uma Lei de Imprensa sancionada em plena repressão do Regime Militar, especialmente sobre os meios de comunicação de massa.
Como se não bastasse a obsolescência das leis que regem o sistema brasileiro de comunicações em não contemplar, entre outras coisas, as atuais mídias eletrônicas de massa; a natureza autoritária e centralizada no processo de outorga de licenças e disparidade entre o que está na legislação e o que acontece na prática, podem ser sinalizados como alguns dos problemas existentes na legislação brasileira que refletirão no futuro bem próximo em como o estado intervirá nos problemas ético-legais envolvendo a nova mídia.
Outra tendência norte-americana que também pode ser aplicada ao caso brasileiro é que, em decorrência do avanço mundial e a convergência das novas tecnologias da comunicação, atrelados ao fenômeno da globalização, os chamados “conglomerados de mídia” concentram a propriedade no setor das comunicações em todo o mundo, resultando na consolidação e emergência de um pequeno grupo de megaempresas mundiais.
Tal processo de oligopolização, como um novo padrão universal, é comparado por estudiosos do setor como o biológico processo de sinergia que, em tese, trabalha com o pressuposto de que a interação de duas unidades “produz algo maior do que a soma de suas duas partes”. No campo das comunicações, isso equivale à junção e ação coordenada de várias empresas, visando uma maior eficiência na atuação das mesmas. Embora positivo e contemporâneo do ponto de vista da eficiência e da dinâmica que o setor das comunicações demanda, tal processo acarreta conseqüências e mudanças estruturais que afetam não só a economia de um país, como também a democrática inserção de outros segmentos no setor envolvido.
Analisando o contexto brasileiro, LIMA (2001) diz que “o novo padrão universal vem assumindo no Brasil feições particulares” uma vez que possui como principais características: 1) o inalterado domínio do setor das comunicações por grupos familiares e/ou políticos; 2) a entrada das igrejas no setor das comunicações e 3) o fortalecimento da posição hegemônica da Globo. No contexto externo, Dizard (2000) aborda o exemplo do empresário australiano naturalizado americano Rupert Murdoch, diretor-geral da News Corporation, que, através de uma administração “inteligente e ambiciosa”, conseguiu uma série de aquisições bem sucedidas de empresasa do ramo das comunicações, sendo o proprietário, atualmente, de um dos maiores conglomerados de mídia do mundo.
Pode-se concluir com base nas abordagens de Wilson Dizard Jr em A Nova Mídia, que a tendência mundial para o novo século no contexto da nova mídia é a convergência das atuais tecnologias da comunicação na produção e distribuição de informações propiciada pela computação, digitalização e internet. Tal convergência reconfigura o padrão até então adotado pelas mídias tradicionais, acirrando severa competição na indústria midiática.
Em face das incertezas sobre o que o futuro nos reserva, uma das conseqüências do atual modelo adotado pela mídia de massa é a fusão de grandes empresas de comunicação, o que se repete em todo o mundo, sob a justificativa da chamada sinergia. Por mais absurdo que tal probabilidade represente para a democracia mundial, estamos indo em direção ao previsto mais ainda desconhecido.
O que mais assusta, porém, é que embora a tendência de monopólio se concretize a cada estudo realizado no setor, o assunto vem sendo relegado a segundo plano no campo das ciências políticas e sociais. Uma vez que o processo de globalização e a convergência das mídias tornam a sociedade cada vez mais dependente da comunicação midiática, não se pode, sob hipótese alguma, minimizar a importância de sanções políticas no campo das comunicações, sob pena de ser ter seriamente ameaçado o direito à liberdade de expressão no mundo.
O que mais assusta, porém, é que embora a tendência de monopólio se concretize a cada estudo realizado no setor, o assunto vem sendo relegado a segundo plano no campo das ciências políticas e sociais. Uma vez que o processo de globalização e a convergência das mídias tornam a sociedade cada vez mais dependente da comunicação midiática, não se pode, sob hipótese alguma, minimizar a importância de sanções políticas no campo das comunicações, sob pena de ser ter seriamente ameaçado o direito à liberdade de expressão no mundo.
Fonte:
DIZARD, Wilson. A Nova Mídia - a comunicação de massa na era da informação. Tradução: Antonio Queiroga e Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores. 2000.
Este ensaio foi apresentado no Curso de Comunicação Social da FIB - Centro Universitário da Bahia, como parte da avaliação na Disciplina Cibercultura e Novas Tecnologias, sob a orientação da Prof.ª Daniela Ribeiro.

Nenhum comentário:
Postar um comentário