sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A nova mídia e a comunicação de massa na era da informação


Por Lázaro Lamberth
A partir do desenvolvimento industrial alavancado a partir do século XIX, os meios de comunicação de massa (MCM), em todo o mundo, entraram em um processo de desenvolvimento sem precedentes. Apenas no século XX, invenções como o rádio e a tevê tornaram-se as principais mídias de massa que o mundo já viu. Porém, com o advento da computação, o avanço exacerbado das novas tecnologias, sobretudo a internet, revolucionou o mundo das comunicações e trouxe novos estilos de mídia para a sociedade contemporânea.
Numa tentativa de refletir tais questões e estabelecer o que seria uma nova mídia do início do novo século, o americano Wilson Dizard Jr., especialista em tecnologia e comunicação, aborda em A Nova Mídia – a comunicação de massa na era da informação, o impacto das atuais tecnologias sobre as antigas e o que se pode esperar da chamada hibridização midiática e convergência tecnológica para a qual o mundo se encaminha.
O presente ensaio consiste em uma reflexão sobre a nova mídia e a comunicação de massa na era da informação e suas implicações sociais e econômicas na atualidade, tendo por base a argumentação central do autor nos textos selecionados. Inicialmente, há um resumo crítico sobre os argumentos principais trabalhado pelo autor no decorrer do texto, estabelecendo prováveis paralelos entre o modelo americano, que é o objeto de análise no texto, e o modelo brasileiro.
Wilson Dizard Jr. inicia sua abordagem associando a comunicação de massa à tecnologia à mudança. Tendo em vista que avanço é algo intrínseco à tecnologia, tal relação acarreta transformações em todas as esferas da sociedade. A nova mídia nada mais e que um fenômeno ou tendência mundial de uma forma de mídia onde todos os componentes híbridamente se convertem para o mesmo fim, tendo em comum a computação e a internet como principais tecnologias. Tal contexto tecnológico midiático ocasiona mudanças em sentido técnico, político e econômico no cenário mundial da mídia de massa. Técnico no sentido da adaptação das mídias às novas perspectivas impostas pela digitalização; político no que se refere às leis e regulamentos de qualquer esfera governamental; e, econômico no sentido da concentração do poder dentro dos grandes conglomerados de mídia.
Ao analisar o surgimento e desenvolvimento da internet como mídia de massa a partir da década de 90 — com o objetivo de descrever seu impacto inicial e examinar seu potencial nos padrões de mídia no início do século XXI — Dizard propõe reflexões acerca do que se pode esperar das atuais e já consideradas defasadas mídias tradicionais, tendo em vista que a computação e a internet são tecnologias em constante processo de desenvolvimento. Podemos prever com certeza o que o futuro reserva para o rádio, tevê e mesmo a imprensa? Até que ponto o avanço tecnológico satisfaz as necessidades de cada cidadão? Conforme bem problematizado, “a pergunta decisiva é como todas essas possibilidades podem nos beneficiar numa democracia pós-industrial mais complexa.” (DIZARD, 2000, pág. 15).
Tais questionamentos se justificam quando, apesar de todo avanço e vantagens em termos de acessibilidade, flexibilidade e interatividade, a digitalização ainda não chega a todas as classes e camadas sociais. O chamado analfabetismo digital, que separa cada vez mais aqueles que têm dos que não tem, é algo que precisa ser tratado urgentemente, sob pena do princípio primordial da cibercultura tornar-se questionável. Sobre isso, Dizard (2000) avalia:
"A continuar a atual tendência, os primeiros dominarão totalmente os recursos de informação de que todos necessitam para sobreviver e prosperar, e os segundos se tornarão um lumpem proletariado pós-industrial, relegados ao entretenimento irracional e outras trivialidades. A garantia de acesso eqüitativo aos recursos de informação de última geração parece ser a questão mais urgente que enfrentamos à medida que penetramos no padrão da nova mídia." (2000, pág. 15)
O que se percebe das considerações contidas no texto é que embora o autor utilize o modelo norte-americano de mídia eletrônica de massa como objeto de estudo em sua análise, o que ocorre nos EUA em termos de MCM e novas tecnologias pode ser aplicado em todo o mundo, inclusive ao Brasil.
A rápida sucessão do avanço tecnológico tira das camadas sociais a percepção do atual cenário de mudança e a emergência de novos padrões de mídia eletrônica de massa e pessoal divide a opinião dos especialistas em comunicação quanto ao futuro da cibercultura e das comunicações na era da informação massiva e excessiva. Há quem acredite que teremos uma sociedade democrática, onde todos serão agentes receptores e produtores de informação. A blogosfera, o jornalismo cidadão e a interatividade digital são algumas das expressões vistas com bons olhos pelos integrados da comunicação. Para os apocalípticos, porém, estamos à caminho do fim, do desconexo, principalmente porque a cultura de massa disseminada pelos mídia introduz conceitos, dita valores e muda a maneira de ser e de agir de milhões de pessoas, acentuando ainda mais a disparidade e segregação social e digital que separa o mundo entre os que têm acesso à comunicação e ao poder e os que, por não estar incluídos ao ciberespaço, ficam alienados do desenvolvimento proporcionado pelas novas tecnologias. O mais provável que ocorra é que, no futuro não muito distante, estaremos em algum ponto entre os dois extremos, pois, apesar de todas as disparidades existentes, não se pode negar as inúmeras possibilidades criadas pela cibercultura e da internet como nova mídia e nova forma de conhecimento.
Outro ponto argumentado que convêm algumas observações tem a ver com o aspecto político legal das novas tecnologias da comunicação. Assim como ocorre nos EUA, no Brasil, a defasada legislação não contempla as atuais mídias eletrônicas. O sistema legislativo de comunicação brasileiro ainda encontra-se regido por uma Lei de Imprensa sancionada em plena repressão do Regime Militar, especialmente sobre os meios de comunicação de massa.
Como se não bastasse a obsolescência das leis que regem o sistema brasileiro de comunicações em não contemplar, entre outras coisas, as atuais mídias eletrônicas de massa; a natureza autoritária e centralizada no processo de outorga de licenças e disparidade entre o que está na legislação e o que acontece na prática, podem ser sinalizados como alguns dos problemas existentes na legislação brasileira que refletirão no futuro bem próximo em como o estado intervirá nos problemas ético-legais envolvendo a nova mídia.
Outra tendência norte-americana que também pode ser aplicada ao caso brasileiro é que, em decorrência do avanço mundial e a convergência das novas tecnologias da comunicação, atrelados ao fenômeno da globalização, os chamados “conglomerados de mídia” concentram a propriedade no setor das comunicações em todo o mundo, resultando na consolidação e emergência de um pequeno grupo de megaempresas mundiais.
Tal processo de oligopolização, como um novo padrão universal, é comparado por estudiosos do setor como o biológico processo de sinergia que, em tese, trabalha com o pressuposto de que a interação de duas unidades “produz algo maior do que a soma de suas duas partes”. No campo das comunicações, isso equivale à junção e ação coordenada de várias empresas, visando uma maior eficiência na atuação das mesmas. Embora positivo e contemporâneo do ponto de vista da eficiência e da dinâmica que o setor das comunicações demanda, tal processo acarreta conseqüências e mudanças estruturais que afetam não só a economia de um país, como também a democrática inserção de outros segmentos no setor envolvido.
Analisando o contexto brasileiro, LIMA (2001) diz que “o novo padrão universal vem assumindo no Brasil feições particulares” uma vez que possui como principais características: 1) o inalterado domínio do setor das comunicações por grupos familiares e/ou políticos; 2) a entrada das igrejas no setor das comunicações e 3) o fortalecimento da posição hegemônica da Globo. No contexto externo, Dizard (2000) aborda o exemplo do empresário australiano naturalizado americano Rupert Murdoch, diretor-geral da News Corporation, que, através de uma administração “inteligente e ambiciosa”, conseguiu uma série de aquisições bem sucedidas de empresasa do ramo das comunicações, sendo o proprietário, atualmente, de um dos maiores conglomerados de mídia do mundo.
Pode-se concluir com base nas abordagens de Wilson Dizard Jr em A Nova Mídia, que a tendência mundial para o novo século no contexto da nova mídia é a convergência das atuais tecnologias da comunicação na produção e distribuição de informações propiciada pela computação, digitalização e internet. Tal convergência reconfigura o padrão até então adotado pelas mídias tradicionais, acirrando severa competição na indústria midiática.
Em face das incertezas sobre o que o futuro nos reserva, uma das conseqüências do atual modelo adotado pela mídia de massa é a fusão de grandes empresas de comunicação, o que se repete em todo o mundo, sob a justificativa da chamada sinergia. Por mais absurdo que tal probabilidade represente para a democracia mundial, estamos indo em direção ao previsto mais ainda desconhecido.
O que mais assusta, porém, é que embora a tendência de monopólio se concretize a cada estudo realizado no setor, o assunto vem sendo relegado a segundo plano no campo das ciências políticas e sociais. Uma vez que o processo de globalização e a convergência das mídias tornam a sociedade cada vez mais dependente da comunicação midiática, não se pode, sob hipótese alguma, minimizar a importância de sanções políticas no campo das comunicações, sob pena de ser ter seriamente ameaçado o direito à liberdade de expressão no mundo.
Fonte:
DIZARD, Wilson. A Nova Mídia - a comunicação de massa na era da informação. Tradução: Antonio Queiroga e Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores. 2000.

Este ensaio foi apresentado no Curso de Comunicação Social da FIB - Centro Universitário da Bahia, como parte da avaliação na Disciplina Cibercultura e Novas Tecnologias, sob a orientação da Prof.ª Daniela Ribeiro.



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Neste blog você encontrará um pequeno acervo dos trabalhos e textos que desenvolvi para algumas disciplinas do curso de Jornalismo, bem como comentários, críticas e reflexões sobre assuntos da atualidade. Seja bem vindo!

Porque Lamberth

As pessoas me perguntam o porquê do sobrenome Lamberth, uma vez que o mesmo não integra o meu nome oficial, Lázaro Britto dos Santos. Pois bem, Lamberth surgiu da brincadeira de uma amiga que, por gozação, só me chamava de Lázaro Lamberth. A brincadeira pegou, a sonoridade combinou e em decorrência, fiquei mais conhecido pelo sobrenome Lamberth do que Britto. Além disso, adotei o Lamberth devido ao enorme carinho que tenho pela madrinha do mesmo.

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Um Pedaço de Mim

UM PEDAÇO DE MIM é uma Biografia de Auto-ajuda com 127 páginas que escrevi em 2003 sobre minha experiência na luta contra um tumor maligno no joelho. Na época, fui operado e tratado no Hospital Aristides Maltez (de Salvador-Bahia), pelos médicos Alexandre Machado Andrade (especializado em Ortopedia Oncológica) e Maria Giselda N. Rocha (especializada em Oncologia Clínica). Hoje, após anos de lutas e vitórias, encontro-me curado e meu interesse em passar para o papel minha experiência foi pelo simples desejo de usá-la para orientar e encorajar outros que estejam lutando contra o câncer.

Veja o release da obra abaixo:


Por Neuza Leite

Um Pedaço de Mim é um livro simples, de autoria amadora e produção independente. Conta a história de um jovem que, aos 19 anos, descobriu um tumor ósseo no joelho. A obra mostra de forma clara e realista que a vitória sobre o câncer ainda é algo imprevisível, pois, ainda existem algumas formas da doença em que bem pouco pode ser feito, apesar do grande avanço da medicina em diagnosticar e tratar o paciente.

Por outro lado, quando se trata de nossa vida, toda e qualquer batalha sempre vale a pena! Esse senso de valorização pelo que de direito é nosso, é justamente o que o autor procura passar para seus leitores – e de certo modo – ele atingiu seu objetivo, pois seu livro ensina-nos de forma ímpar e magistral, como amadurecer com as adversidades, a enfrentar as perdas, as deficiências e os contratempos que uma enfermidade nos apresenta.

Um Pedaço de Mim revela-nos seus métodos utilizados no combate à doença, bem como o que ele sugere de natural, espiritual e psicológico a uma pessoa que esteja lutando ou auxiliando "entes queridos" na luta contra esta implacável doença. O livro é composto também de cinco anexos que relatam um breve histórico do câncer; como surge, principais tipos, causas, fatores de risco, prevenção e formas de tratamento médico e psicológico aos pacientes afligidos pela doença.
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