
Por Lázaro Lamberth
Com o advento das novas tecnologias, principalmente no campo da comunicação, o telefone celular destaca-se como um dos aparelhos que mais se moderniza com o passar do tempo. O interessante é que tal modernidade vem acompanhada de popularização, ou seja, o que antes se destinava apenas a uma minoria de privilegiados acabou integrando o cotidiano de todas as pessoas, independente de faixa etária, situação econômica ou classe social.
Para quem acreditava que o celular tenha surgido com o único objetivo de proporcionar ao cidadão a possibilidade de realizar e/ou receber uma ligação onde quer que esteja, o atual grau de sofisticação e modernidade alcançado pelos fabricantes de aparelho celular surpreende a cada dia.
Desde o seu recente surgimento no Brasil, em meados da década de 90, quando os aparelhos não passavam de “tijolões” feios, pesados e robustos, o celular desenvolveu-se rapidamente, resultando no objeto atraente, pequeno, leve e com uma imensa variedade de modelos e recursos que vemos hoje.
O que se nota é uma convergência de reunir, num único aparelho, as funções de vários outros eletrônicos, como, por exemplo, serviços de mensagens, acesso à internet, agendas eletrônicas, jogos, câmera digital, MP3, hits polifônicos, etc. Estes são apenas alguns dos recursos integrantes do arsenal de novidades que a cada dia compõem um novo lançamento.
Diante do exposto, acredito e defendo a hipótese de que toda essa multiplicidade de recursos oferecidos num único celular não é usufruída e nem realmente necessária. Ainda assim, o desejo de consumo da maioria das pessoas continua sendo pelo aparelho mais funcional, menor e mais fascinante.
Embora 11% dos entrevistados tenham declarado não possuir renda e 46% possuírem renda mensal entre 01 e 03 salários mínimos, mais de 70% dos entrevistados possuem um celular moderno. Tais dados confirmam que, embora o uso do celular em nossos dias seja uma necessidade, muitas pessoas o adquirem por uma questão de integração social, ou seja, almejam ter o que todos têm.
Luci Gati Pietrocolla, em seu livro O Que Todo Cidadão Precisa Saber Sobre Sociedade de Consumo[1], destaca a facilidade do crédito no momento da compra como uma das explicações para situações como essa, pois "dependendo do sistema de crédito, mesmo as classes mais desfavorecidas, principalmente as dos centros urbanos, podem alimentar a fantasia do poder e status incorporados aos objetos consumindo-os em suaves e infindáveis prestações mensais. Juros extorsivos, linha dura nos prazos de pagamento e nenhum direito a não ser o da posse sobre o objeto, assim mesmo se não houver atraso nas prestações, o consumidor compra acima de tudo, a ilusão de ser feliz. Esta é extensiva a toda população brasileira porque consiste, na verdade, numa fantasia e esta não é privilégio dos ricos apenas, é dos pobres também. Todos podem sonhar”. Este é o “modo de vida veiculado e requerido pela sociedade de consumo, portanto, não é privilégio apenas de poucos, ele atinge a todos".
Tal comportamento é notado em muitos adolescentes que desejam ser aceitos no grupo social a que pertencem, que desejam sempre se destacar entre os demais, e vêem no celular a oportunidade para isso. Dos entrevistados, 35% foram pessoas na faixa etária de 10 a 20 anos que, na grande maioria, declararam não possuir renda e ainda assim possuem aparelhos bem modernos.
Outra hipótese interessante confirmada na pesquisa foi que, embora mais de 70% dos entrevistados possuam celular repleto de recursos, apenas 28% declararam utilizar, com freqüência, todos os recursos do aparelho, ao passo que o restante – a grande maioria – só utiliza alguns recursos ou apenas os necessários, que é fazer e receber ligações. Entre os homens, este dado é ainda mais alarmante ao passo que 14% (isso mesmo, apenas 14%) dos entrevistados utilizam todos os recursos do aparelho. Notamos em tais dados uma contradição existente entre as reais "necessidades" e "desejos" das pessoas ao adquirir um celular.
Em suma, esta pesquisa me fez chegar à seguinte conclusão: a popularização do celular dá-se por ambos os motivos: status e necessidade. É irrefutável a necessidade do celular para facilitar a comunicação entre as pessoas, principalmente àquelas que dele dependem para o trabalho ou que passam a maior parte do tempo fora de casa. Por outro lado, é questionável o uso do celular entre adolescentes e outras pessoas que, na sua grande maioria, não trabalham e/ou não tem tanta urgência de serem contatadas onde quer que estejam.
A verdade é que, em termos sociológicos, o celular já se integrou à vida de quase todas as pessoas, independente das necessidades de cada um. Aqueles que ainda não o possuem são freqüentemente pressionados pela chamada indústria cultural, através dos meios de comunicação de massa e das próprias sociedades de consumo a adquiri-lo imediatamente. Notamos nesta tendência, a manipulação do mercado capitalista, valendo-se, sobretudo da propaganda, para aflorar o desejo contido na mente e, sobretudo, no coração das pessoas de se ter um celular. Sobre isso, Pietrocolla[2] diz que "a propaganda se infunde na vida dos homens de forma sutil, sedutora, provocante, incidindo sobre necessidades não satisfeitas plenamente e dando respostas a ela. Essas podem ser falsas, enganosas, ou mesmo verdadeiras, mas são respostas. Assim, a criação de necessidades não é uma coisa imposta, que vem de cima para baixo, mas é algo que já está ‘embaixo’, ou seja, é na área de carência do homem por significado que a propaganda atua".
No que diz respeito ao primeiro questionamento levantado nesta pesquisa – o que leva as empresas fabricantes do telefone celular a modernizar tanto seus novos lançamentos – podemos aludir a concorrência mercadológica como geradora deste fato. Ou seja, a explosão do consumo provoca uma severa disputa entre as empresas, que passam a investir pesado em busca de avanços tecnológicos que possibilitassem o aumento da qualidade e da quantidade de serviços e produtos oferecidos. A busca incessante por novidades que atraiam os consumidores faz com que o mercado se torne cada vez mais competitivo, demandando não só a sofisticação dos novos produtos, como também um grande investimento em publicidade. Uma prova disso é a enxurrada de propagandas que vemos diariamente sendo veiculadas nos meios de comunicação de massa, sobretudo das operadoras de celular, o que nos faz concluir que as mesmas estão entre as empresas que mais investem em propaganda como estratégia de marketing.
Assim sendo, as sociedades de consumo no âmbito do telefone celular não difere das demais. Tem como alvo principal a produção e a venda de novos produtos num processo interminável, onde o verdadeiro beneficiado é o capitalismo. Enquanto consumidores, somos vítimas e ao mesmo tempo agentes integrantes desta grande organização, a partir do momento em que trabalhamos como escravos a fim de consumir os novos modelos que diariamente são lançados no mercado. Ficamos encantados com variedade de designs, cores, tamanhos que, na maioria das vezes, não nos preocupamos nem um pouco com os esforços que fazemos para adquirir tais produtos. Não queremos apenas um celular, queremos o melhor celular que pudermos comprar, e neste anseio, não nos damos conta que só contribuímos para o aumento do capitalismo e para a exploração do trabalho humano, aumentamos as fortuna dos ricos e a miséria dos pobres. Em outras palavras, o anseio pelo consumo nos faz venerar aquilo que nos aniquila como indivíduos.

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