
Por Victoriano Garrido Filho
Finalmente fui assistir ao badalado filme nacional Tropa de Elite. Resisti orgulhoso à tentação da pirataria, uma "inocente" contravenção que causa prejuízos incalculáveis a nossa economia e aos direitos autorais. Como autor de livro, sei o que representa quando um “inocente” aluno tira cópia ou disponibiliza os originais na internet. Também como apaixonado por cinema, sou daqueles que acham que nada substitui o prazer de assistir o filme na telona, no ambiente mágico de uma sala de projeção.
Primeiro o filme traz um retrato nu e cru da nossa Tropa. A corrupção que está presente dentro de parte da policia, que eles chamam de banda podre. Claro que temos policiais honestíssimos e no filme existem belos exemplos. Também sabemos que a corrupção está presente em todos os segmentos, embora temos que concordar que na policia ela se torna mais dramática pelo seu oficio de nos proteger e onde temos contato, na maioria das vezes, nas nossas horas de mais aflição e desespero. Ninguém vai a uma delegacia matar o tempo ou bater papo.
Em algumas cenas vemos como pode a corrupção não ter limites, como na cena que um sargento pede propina a um soldado para marcar suas férias, ou em algumas cenas tragicamente "hilárias", quando soldados ficam transferindo cadáveres de uma área de um batalhão para outro, como forma de driblar as estatísticas. A velha tática de colocar o termômetro na geladeira para esconder a febre.
Vemos também a ética sob a ótica do capitão Nascimento, magistralmente interpretado pelo ator baiano Wagner Moura, difícil acreditar que ele não era um policial de verdade. Wagner interpreta um policial determinado, que acha que os fins justificam os meios e tem a clara noção que bandido é bandido. No filme, vemos as pessoas torcendo por ele, transformando-o em herói, talvez o retrato mais fiel da falta de confiança das pessoas nas instituições. Um verdadeiro justiceiro da lei, botando ordem no pedaço.
Agora talvez o maior mérito do filme seja desmascarar a nossa Elite. Nele vemos claramente que o maior vilão desta história e muitas vezes um vilão oculto, é a parte da nossa sociedade que consome drogas. Vocês já pararam para pensar se os traficantes não tivessem clientes? Aconteceria como em qualquer negócio. Iriam à falência levando consigo os policiais corruptos, vendedores clandestinos de armas e os grandes traficantes que estão no caso específico do Rio, muito mais na Vieira Souto que nos morros. Levaria também boa parte da violência que vitima a sociedade hoje em dia. E ai reside a grande contradição mostrada pelo filme. A sociedade é vítima de algo causado por parte desta mesma sociedade. A passagem do filme em que jovens, muitos deles consumidores de drogas, fazem passeata pela paz e contra a violência que eles próprios sustentam, é genial. Ali o rei fica nu.
Mas definitivamente, o filme é a cara do nosso País. Um Pais de decisões mágicas e soluções imediatistas. Que faz então surgir contra a TROPA e contra a ELITE, uma tropa de elite, conduzida por um Salvador da Pátria que vai nos libertar e nos conduzir ao paraíso. Que os tiros de tropa de elite, acordem o Brasil e faça a gente entender que só com investimento em educação, deixaremos de ser um País de grades e milícias, dividindo os que não comem e os que não dormem com medo dos que não comem, como diz um velho adágio popular.
Uma colaboração de Josilene Passos

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